Coletivos me incomodam.
Esses substantivos criados com o objetivo de reunir determinados grupos, além de dizer muito mais de nossa sociedade e sobre o comportamento humano, são estranhos, inadequados e irônicos. Aos olhos de um primata comum podem parecer inofensivos mas são uma bela demonstração da discrepância que existe nem nossa sociedade e como o que reina na vida é a injustiça.
Um conjunto de chaves é molho, o de lobos é alcateia e já o de vadios é matula. O substantivo coletivo indica um agrupamento, mostra a multiplicidade de seres de uma mesma espécie, apesar de ser uma palavra completamente avulsa e no singular. Uma cabra é feliz. Leva sua vida honestamente e ensina suas crias abestadas como seguir por esse trio elétrico moribundo, mequetrefe e com um motor de fusca que chamamos de vida. Cabras são legais. E têm uma grande consideração pelos humanos, convivem conosco a muitos anos sendo meio de transporte, vestimenta, fonte de alimentação e até companhia. Os humanos, que tiveram a mesma vivência, preferem estimar, amar e acariciar seus telefones celulares. E na hora de nomear um grupo de cabras optou por: Fato. Meu Deus. Não sei como elas não vivem em uma constante crise de identidade. (Eu vivo)
O indivíduo é um, único e especial. Mas quando está em grupo se torna uma palavra diferente e indiferente, perde sua individualidade e passa a ser mais um em uma massa insossa e genérica. Para nós, bípedes da ordem dos primatas, é esse o estilo de vida que nossos milhares de anos de existência nos mostraram ser um caminho fidedigno, justo e feliz. Mas que diabos as cabras têm a ver com nossas escolhas infelizes? E não só as cabras, o conjunto de cebolas é: Réstia. Réstia! E se isso já não fosse injustiça o suficiente, o substantivo comum tem que seguir as regras gramaticais, existe pural, singular e etc. Os soberbos e superiores coletivos, não. Estão sempre no singular. Como bem dito na Revolução dos bichos: “…Todos são iguais mas alguns são mais iguais que outros…”
Um porco é um belo animal. É um bonito ser, com suas próprias características. Você sabe como é um porco, não existe dúvidas. Já uma vara, pode ser qualquer coisa. Como é uma vara? O que ela quer? O que pensa da vida? Porque diabos continua vivendo nesse planeta onde os seres, que se acham os mais inteligentes, nomeiam tudo a Deus dará e brincam com a identidade das coisas, dos animais e de tudo ao seu redor apenas por que não sabem quem são, de onde vieram, para onde vão e nem tem a menor ideia do que deveriam estar fazendo? Eu sou uma pessoa, você é uma pessoa (Pelo menos eu acho.) e juntos somos: mais?, amigos?, idiotas?, não. Somos: Chusma. (Ainda acha que sabe quem você é?)
Talvez o balido das cabras seja um aviso. É extremamente provável que estejam dizendo que devíamos parar um pouco de brigar uns com os outros e de nomear as coisas. Para elas, devíamos gastar mais tempo de nossas vidas injustas e inábeis nas montanhas e parar um pouco para cheirar o peido. (Técnica divulgada pelo ator Joey Tribiani.)
Cabras são legais.
Bjundas
Ministério do sarcasmo adverte:
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Sunça é cartunista, escritor e publicitário.
Às vezes certo, às vezes errado, nunca com razão.
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