Humanos são seres culpados. Nessa vida baldia, inaudível e impalpável nos sentimos responsáveis por tudo, mas não necessariamente por todos. Aliás estendemos essa culpa e preocupação no máximo a nossa família, amigos e ao mendigo que mora em nossa rua e/ou bairro e que é nosso brother. Existe uma sensação que reina no universo de que deveríamos ser mais do que realmente somos, de que devíamos fazer mais do que realmente fazemos e de que fazemos parte de algo a mais. (O que provavelmente não é verdade.) E nos sentimos culpados por tudo isso. Por isso, não é estranho que a prática mais comum entre nós seja a transferência da culpa. Em alguns casos, como na justiça, a delegação da culpa.
Vivemos apontando o dedo uns para os outros, gritando uns com os outros, batendo um nos outros e matando uns aos outros. O que não faz sentido nenhum, uma vez que depois de morto fica difícil comprovar de que fulano de tal é que gosta de Chiquititas e não você. Um defunto não assiste tv, ele têm outras coisas para se preocupar: a decomposição, vermes e minhocas, a fome por cérebros humanos, curtir o fim de semana com Larry Wilson e Richard Parker e até mesmo assombrar a sua própria cozinha. Nosso translado de culpa foi tão longe, que chegamos a envolver um Pato.
E afinal, quem é esse Pato? Quem deve dinheiro a ele? Porque as pessoas não o pagam? Quem em sã consciência pegaria dinheiro emprestado de um Pato? Deixar um Pato pagar uma conta enquanto você foge pela janela do banheiro é algo que posso entender. E uma prática comum entre os bípedes da ordem dos primatas, mas tentar resolver seus problemas financeiros fazendo um empréstimo com um Pato é inaceitável e inviável. Até porque o mais rico deles é extremamente pão duro. Nossa represa de culpa é tão grande que decidimos, conscientemente, acomodar a culpa em uma ave. Depois de acessar sites pornos, evacuar ofensas na internet, no trânsito, nas revista e jornais nossa maior expertise é transferir as consequências de nossas ações e/ou atitudes para outras pessoas. E alguém sempre paga a conta. (No caso o Pato)
Há quem diga que a expressão “Pagar o Pato” se originou no séc. XV, quando um camponês que andava livre leve e solto com um pato debaixo de seu braço, passa em frete a uma casa e a moradora do local se interessa pelo pato. Uma atitude comum, raramente homens e mulheres demonstram interesse uns pelos outros e/ou se importam com as vidas alheias, exceto é claro, quando o sexo está na jogada. O camponês, que demonstrou interesse na moradora, oferece então o pato como forma de pagamento por atos sexuais. (Eu bem que avisei) A moradora, que tinha um estapafúrdio interesse pelo pato, aceita o negócio. Mas como tudo não são flores, a mulher decidiu que já tinham feito sexo suficiente, porém o camponês não concordou e eles começaram a discutir. Neste momento o marido da mulher chega em casa, rapidamente ela diz que a discussão é acerca do pagamento do pato. Para acabar com a confusão o marido pagou o camponês que foi embora. Como sempre, em nenhum momento, passou pela cabeça dos humanos quais as necessidades, vontades e desejos daquela pobre ave. É de conhecimento geral e comum que animais só existem para nos satisfazer.
O marido pagou pelo pato, a mulher pagou pelo pato e o camponês não pagou nada recebeu duas vezes e cedeu o pato. Mentiras, traições, falcatruas e desonestidades essas são as relações humanas. O marido provavelmente se sentia culpado por não dar um pato a esposa, a esposa se sentia culpada pela traição e o camponês se sentia culpado por ter trocado/abandonado seu companheiro de longa data por uma rapidinha. Mas rapidamente e habilmente os três transferiram a culpa para o Pato. Quem paga é sempre o Pato. O que é íntegro e justo já que Homer Simpson, um grande sábio da humanidade, uma vez afirmou: “A culpa e minha e eu boto em quem eu quiser!”
Humanos são seres culpados. Mas quem paga é o Pato!
Bjundas
Ministério do sarcasmo adverte:
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Sunça é cartunista, escritor e publicitário.
Às vezes certo, às vezes errado, nunca com razão.
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