A felicidade é algo tão longe e inalcançável para nós, homens e mulheres humanos, que, em nossa incapacidade de percebê-la em nossa práxis diária somos ludibriados, por nós mesmos, a pensar que ela não existe ou não quer saber da nossa existência, ou ainda que casou mudou e não nós convidou. E temos a certeza de que ela migrou para o fim de semana e que casou com nosso vizinho(a).
Para a maioria dos primatas é no sábadabado e domingo onde podemos nos deleitar em satisfação praticando uma inatividade ociosa. Muitos dizem que os demais dias da semana de nada servem e que deveriam ser abolidos de nossas vidas fajutas, junto com o trabalho, o esforço e os demais elementos que engrandecem o homem. Afinal, de que serve ser uma pessoa melhor se no fundo não estamos nem aí para a sociedade e para o mundo, a única coisa que importa é que nosso respectivo time seja campeão no Brasileirão. Importa também, ingerir colossais quantias de álcool antes, durante e depois das partidas. Saber o placar, quem jogou bem ou até qual seu nome e onde você mora são questões triviais. O importante mesmo é gritar a esmo como um louco completamente embriagado no néctar dos deuses que é a cerveja gelada. Que para muitos é também um dos locais onde reside a felicidade.
Então trabalhamos a semana inteira. Acordamos cedo e nos arrastamos para nossos respectivos trabalhos, enchemos nossas fuças de café e nos alimentamos com balas e salgados. Em meio a tudo isso analisamos freneticamente e cuidadosamente nossos telefones celulares enquanto trabalhamos vagarosamente e displicentemente. Tudo isso com um sol tórrido em nossas cabeças no clima abrasador de nossos escritórios. E tudo vale a pena. Precisamos do dinheiro para o sustento do deleite da felicidade que acontece no fim de semana, normalmente chuvoso, frio e inerte. O que é injusto e cruel. Nessa motoneta enguiçada remendada e provavelmente sem reparo que chamamos de vida, tudo o que queremos (ou que pensamos querer) é, ou parece ser, inatingível. Então como nós bípedes da ordem dos primatas não encontramos a felicidade na mesmice dos finais de semana fizemos o que costumamos fazer com nossos problemas, nossos sentimentos e nossos entes queridos quando estão demasiados longevos em sua vivência. A transferimos de local.
E sua nova morada foi o feriado, ali é onde mora a felicidade. O feriado tem a capacidade de estender o fim de semana e, quando bem sucedido, pode ampliá-lo em até dois dias. Nele não existe o marasmo do final de semana, podemos nos deleitar em satisfação praticando as mesmas inatividades ociosas. Também conseguimos satisfatoriamente encher o bucho de álcool, tanto quanto em qualquer dia em que costumamos frequentar nossos tão estimados botecos (Normalmente semanalmente, obrigatoriamente, de quinta-feira a domingo. Os demais dias são opcionais). Podemos dormir, comer e assistir tv como em qualquer outro dia, mas com um gozo especial já que de fato ali podemos e encontramos a felicidade. Aproveitamos tudo até nossa existência seguir seu rumo normal e cotidiano e perceber mais uma vez que continuamos infelizes. Fazendo como sempre as exatas coisas que nos deixam extremamente malcontentes, a única diferença é que executamos tudo mais embriagados que o normal (Na tentativa usual e cotidiana de encontrar satisfação na garrafa de pinga) e com a sensação de que tudo passa e acaba rápido demais. Como já diria o esperto e sábio Tom Jobim, “Tristeza não tem fim, felicidade sim…”. Atravessamos nossa existência tristes e alcoolizados em buscas dos feriados que são velozes e passageiros. Ironicamente quanto maior o feriado mais acelerado, vide as malditas férias que vêm e que passam tão rápidas quanto nossos breves relacionamentos amorosos, enquanto que a vida segue firme e forte como uma vaca gorda entalada em uma cerca no meio de um pasto maltrapilho e enlameado.
Feriados são efêmeros.
Bjundas
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Sunça é cartunista, escritor e publicitário.
Às vezes certo, às vezes errado, nunca com razão.
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