Trinta anos depois dos acontecimentos do primeiro filme, um novo Blade Runner desenterra um segredo que tem o potencial de transformar em caos o que resta da sociedade.
164 min – 2017 – EUA
Dirigido por Denis Villeneuve e roteirizado por Hampton Fancher e Michael Green. Com Ryan Gosling, Harrison Ford, Jared Leto, Ana de Armas, Sylvia Hoeks, Robin Wright, Dave Bautista, Mackenzie Davis e Carla Juri.
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Texto originalmente publicado no site Cinema e Cerveja.
Em 1982 chegou aos cinemas “Blade Runner, o caçador de Andróides”. O retrato de um futuro pessimista e sombrio. Um filme contemplativo que, acompanhado da melancólica trilha sonora de Vangelis, trazia um debate sobre a humanidade, o preconceito e escravidão. Nele o objetivo de seus “vilões” é apenas viver. É clara a futilidade da vida e da felicidade em um mundo onde replicantes são mais humanos do que as pessoas com quem “convivem”. E a difícil missão de reger a continuação do clássico de Ridley Scott caiu nas mãos do talentoso Denis Villeneuve. E o diretor do ótimo “A Chegada” se mostrou a escolha correta, apresentando uma obra que presta homenagem ao original, porém trazendo novos temas e debates com um ritmo próprio.
Villeneuve não têm pressa e nos apresenta com calma a atmosfera, seus personagens e suas temáticas. É um bom trabalho de direção. Estamos na mesma Los Angeles que antes era sempre chuvosa e fria, e agora, sempre gelada e nevando. “Blade Runner 2049”, assim como seu antecessor, é uma história de detetive. Um noir futurista que não foca em cenas de ação e cede espaço para suas reflexões. É um filme longo que assume um risco narrativo e entrega uma trama sombria e corajosa. Acompanhamos mais uma vez um policial, o K (Ryan Gosling), que têm como objetivo perseguir replicantes antigos que são capazes de se rebelar. A antiga “Tyrell Corporation” responsável pela produção dos andróides agora tem um novo dono, Niander Wallace (Jared Leto). Os novos seres sintéticos produzidos por Wallace são obedientes e não se rebelam. Falar mais do que isso sobre a trama pode estragar a experiência do espectador.
O grande mérito da obra é não recriar o original, ela o reconhece como parte do mesmo universo e expande sua mitologia. O longa não tenta esconder que se passaram trinta anos, pelo contrário, é nítido o cuidado para manter a coerência daquele mundo. As corporações existentes no primeiro continuam existindo e a tecnologia nitidamente evoluiu baseada no que nos foi apresentado. Os carros voadores estão presentes, a neve constante, painéis de neon e a sensação de um futuro decadente. As referências ao filme de Scott e ao livro de K. Dick que baseou o filme original, estão presentes. Agregam e ajudam a conduzir a trama e as novas reflexões. Roger Deakins faz um ótimo trabalho, a fotografia de “Blade Runner 2049” é belíssima, remete ao filme inicial e vai além. O visual impressiona transmite bem a ideia de solidão e constrói um mundo seco, sério e preconceituoso. Cada cor, cenário e enquadramento é fundamental no desenvolvimento dos personagens e seus dilemas.
O roteiro de Hampton Fancher e Michael Green expande a mitologia do universo, trazendo novidades. Uma descoberta de K logo na primeira missão que acompanhamos promete mudar aquele universo, e isso é o que desencadeia a trama. A narrativa é feita a partir de longos e demorados planos que nos permitem contemplar bem o mundo e seus personagens. Esse ritmo muda após a aparição de Rick Deckard (Harrison Ford) no terceiro ato, que acelera os acontecimentos até o final da obra. É interessante que Deckard venha acompanhado de “fantasmas do passado” como Elvis Presley, Marilyn Monroe e Frank Sinatra. A obra conta sim com reviravoltas e revelações, porém essas não são o foco. O importante são suas discussões temáticas, sobre alma e nascimento, escravidão, preconceito e o que é ser humano de verdade. Para isso temos cenas emblemáticas como vários momentos entre Joi (Ana de Armas) e K. E esses são apenas alguns dos vários questionamentos que o longa nos traz.
“Blade Runner 2049” têm um ritmo intencionalmente lento, é contemplativo e busca fazer o espectador questionar seus sentimentos e ideias. Cenários envolventes e atraentes compõe ambientação que ajuda a ressaltar o questionamento do que é real ou humano. Villeneuve faz um ótimo trabalho, apresenta uma ótima continuação que funciona muito bem sozinha. Um filme que faz jus ao original. Cenas de ações e momentos engraçados se fazem presentes, mas nunca são o foco e nem nos retiram da narrativa. O importante em “Blade Runner” é o questionamento sobre o que é a vida.
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Nota do Sunça:
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