Sunça no Cinema – O Rei Leão (2019)

Simba (Donald Glover) é um jovem leão cujo destino é se tornar o rei da selva. Entretanto, uma armadilha elaborada por seu tio Scar (Chiwetel Ejiofor) faz com que Mufasa (James Earl Jones), o atual rei, morra ao tentar salvar o filhote. Consumido pela culpa, Simba deixa o reino rumo a um local distante, onde encontra amigos que o ensinam a mais uma vez ter prazer pela vida.

118 min – 2019 – EUA

Dirigido por Jon Favreau, roteirizado por  Jeff Nathanson. Com Donald Glover, Beyoncé Knowles, James Earl Jones, Chiwetel Ejiofor, Alfre Woodard, John Oliver, John Kani, Seth Rogen, Billy Eichner, Eric André, Florence Kasumba, Keegan-Michael Key, JD McCrary, Shahadi Wright Joseph, Amy Sedaris, J. Lee, Penny Johnson, Chance the Rapper, Josh McCrary, Phil LaMarr.

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Aos oito anos, abraçado com minha mãe e aos prantos, em uma sala de cinema assisti “O Rei Leão” pela primeira vez. O clássico de 1994 me marcou. É ainda hoje um de meus filmes favoritos. Uma de minhas primeiras lembranças em uma sala de cinema. Logo, estava ansioso para assisti-lo novamente na telona. Chamar esse novo filme de reboot é errado. Ele é na verdade, uma refilmagem. O diretor Jon Favreau refaz quase que quadro-a-quadro o longa original. É exatamente a mesma história com algumas novas sequências. Chamar esse filme de live-action também é errado. E não só errado, como injusto com a equipe de animadores que faz um trabalho impecável na obra. A projeção é uma animação fotorealista. Esse é foco do filme. Refazer o original, sem grandes modificações, porém com um viés extremamente realista. Então o que assistimos é basicamente um documentário “Animal Planet” do Rei Leão. O objetivo do longa, que é a busca pelo realismo excessivo, é seu ponto mais forte, o aspecto que merece destaque e elogios. Ele é também o ponto mais fraco e o elemento que merece críticas e enfraquece a obra. 

A história é a mesma, Simba (Donald Glover) é o sucessor de seu pai, o rei Mufasa (James Earl Jones). A inveja de seu tio Scar (Chiwetel Ejiofor) o leva a elaborar um plano que causa a morte de Mufasa. Simba se culpa pelo ocorrido, com a ajuda de seu tio, e foge do reino. Ele acaba encontrando amigos que o convence a esquecer o passado e viver sem preocupações. Até que suas responsabilidades o alcançam e ele têm que retornar e encarar seu passado. A principal novidade é o fotorealismo dos animais e das paisagens africanas. Os detalhes e riquezas de textura impressionam, o filme é maravilhoso e deslumbrante. Jon Favreau sabe disso, e aposta nos travelings, em planos sequência que acompanham um rato, um besouro, ou o pelo de Simba. Os animais estão perfeitos e as paisagens lindas. O nível de detalhe impressiona. Porém a obra perde em expressividade e dramaturgia. Os close-ups nos personagens não transparecem emoção como deveriam, não é a toa que o diretor os utiliza menos do que no clássico de 1994. As cores vibrantes do original, a movimentação caricata e design expressivo dos personagens fazem falta. A excessiva busca pelo realismo, mata justamente o que a técnica animação têm de melhor a oferecer. 

Se o aspecto visual é marcado apenas pela busca do realismo e do belo, fica a cargo das vozes e trilhas sonora carregar a interpretação e dramaticidade do longa. E assim como no original o destaque fica para Timão (Billy Eichner) e Pumba (Seth Rogen). Os intérpretes estão muito bem e (Rogen talvez o melhor da obra). Vale ressaltar também que é justamente neles que o filme se permite ligeiramente ser mais caricato nas movimentações e expressões dos animais. Não à toa é a sequência que funciona melhor. Scar ganha um peso mais trágico e debilitado e acaba sendo muito inferior à sua antiga versão. O Simba de Glover não consegue se destacar e a Nala de Beyoncé Knowles-Carter ganha mais destaque e protagonismo que no clássico de 1994 e consegue demonstrar força em alguns momentos. Fico feliz com a escolha de trazer de volta James Earl Jones para a voz de Mufasa, sua imponência faz toda a diferença. A icônica trilha sonora da animação clássica ganha novas batidas e arranjos condizentes com o visual apresentado e com o momento em que vivemos. É bonito ouvir Donald Glover e Beyoncé cantando juntos e a nova canção, “Spirit”, encaixa bem no filme.   

A obra traz sim algumas novidades que merecem destaque e admiração. A sequência musical de “The Lion Sleeps Tonight” cumpre um papel na trama e funciona melhor do que no original, justamente por se render ao cartunesco. O maior protagonismo feminino também é louvável. A obra se empenha ainda mais na ideia do “ciclo da vida” e na conexão de todas as coisas. O que pode ser observado na representação de todo o trajeto do pelo de Simba até sua “chegada” a Rafik (John Kani). Personagem que é muito menos interessante do que no filme anterior. É também um momento de onanismo do diretor, onde ele diz: Olha só o nível de detalhe que chegamos no pelo dos animais, na vegetação, na água, nos insetos e até mesmo em um cocô. Mas, na minha opinião, a mudança mais significativa é no discurso de Mufasa. Que diz a Simba que o reino não é dele, ser rei é uma responsabilidade e não uma posse. Um verdadeiro rei cuida dos demais animais. 

“O Rei Leão” de 2019 é a versão “Animal Planet” do clássico de 1994. É maravilhoso e deslumbrante. Uma animação fotorealista tecnicamente impecável. Mas é justamente a busca pelo excessivo realismo seu maior problema. Seus personagens perdem expressividade, suas sequências, cenas e planos não têm o impacto da animação original. Momentos importantes da trama e impactantes no original de 1994, perdem força e ficam piores. “I just can’t wait to be king” (Memorável até na fase do jogo de Super Nintendo), “Be Prepared” e toda a conversa do Simba com o Mufasa nuvem, são exemplos disso. E até agora não entendi porque nessa versão Simba e Nala cantam “Can you feel the love tonight” durante o dia. É um bom filme, mas que serve mesmo para lembrar como é ótimo e fantástico o original. 

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Nota do Sunça:

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