Destacamento Blood acompanha um grupo de quatro veteranos de guerra afro-americanos que retornam ao Vietnã buscando os restos mortais do líder de seu antigo esquadrão e de um tesouro enterrado, tentando encontrar suas inocentes perdidas pelo caminho.
154 min – 2020 – EUA
Dirigido por Spike Lee. Roteirizado por Danny Bilson, Paul De Meo, Kevin Willmott, Spike Lee. Com Chadwick Boseman, Jean Reno, Paul Walter Hauser, Delroy Lindo, Jasper Pääkkönen, Mélanie Thierry, Van Veronica Ngo, Jonathan Majors, Clarke Peters, Isiah Whitlock Jr., Norm Lewis, Rick Shuster, Casey Clark, Alexander Winters, Mav Kang.
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“Destacamento Blood”, novo filme do cineasta Spike Lee, relaciona traumas de guerra com desigualdade racial e o imperialismo norte-americano. A obra começa com uma frase de Muhammad Ali e se encerra com um discurso de Martin Luther King. O diretor opta por colocar essas duas figuras importantes na busca pela igualdade de direitos civis, em momento que se pronunciavam contra a guerra do Vietnã. Ali teve problemas em sua carreira devido sua postura de oposição à guerra e Martin Luther King acabou sendo assassinado um ano após um de seus mais famosos pronunciamentos também contrário à guerra. “Destacamento Bood” é um filme atual, cidadãos afro americanos continuam sofrendo de brutalidade do governo dos EUA. O exemplo mais recente é o assassinato de George Floyd por um policial branco na cidade de Minneapolis. Vidas negras importam e essa é uma das fundamentais discussões que o novo filme de Lee aborda.
Quatro veteranos da guerra voltam ao Vietnã com autorização do Pentágono e do governo vietnamita para resgatar o corpo de seu comandante que faleceu durante a guerra no meio da selva. Os cinco negros formavam o grupo conhecido como Bloods. O comandante (Chadwick Boseman), apelidado de Stormin’ Norman pelo batalhão, é sempre mencionado com respeito e reverência, é um herói. O grupo é formado pelo soldado-médico Otis (Clarke Peters), o engraçado Eddie (Norm Lewis), o debochado Melvin (Isiah Whitlock Jr.) e Paul (Delroy Lindo) um personagem complexo, controverso e interessante. É com esse grupo que Spike Lee faz suas homenagens e críticas ao cinema de guerra dos EUA. “Apocalypse Now” recebe várias homenagens desde seu nome escrito em tela até recriações de cenas e sequências. As críticas ficam para filmes como “Os Boinas-Verdes” dirigido e estrelado por John Wayne, “Rambo” e até o Chuck Norris. O longa chega a colocar um de seus personagens comentando como Hollywood tentou vencer a guerra nos cinemas e também como nas telonas a guerra é sempre protagonizada por brancos. Ainda que 32% dos soldados que lutaram na selva fossem negros.
O roteiro é esperto ao adicionar o elemento ganância a trama. Além de resgatar os restos mortais de Norman, os bloods também buscam quase dezessete milhões de dólares em barras de ouro. Assim Spike Lee cria mais um subtexto e traz uma reflexão sobre imperialismo norte americano. O grupo protagonista pretende construir sua riqueza utilizando guerra e violência. As reflexões e discussões propostas não são gratuitas. Ajudam na narrativa e desenvolvem os personagens do longa. Assim como no clássico “ O Tesouro de Sierra Madre” do diretor John Huston percebemos o impacto dessa futura riqueza em cada um dos personagens e como a ganância pode moldar comportamentos e destruir amizades e relacionamentos.
Durante a obra temos saltos temporais. Acompanhamos o grupo no presente e temos alguns flashbacks deles durante a batalha. A guerra acaba para os países e suas relações internacionais, mas nunca para seus soldados que carregam marcas físicas e psicológicas o resto de suas vidas. Percebemos o fardo que os personagens carregam, a dificuldade em retornar à vida “normal” e relações familiares, o personagem David (Jonanthan Majors) filho de Paul ilustra bem isso e serve como um contraponto ao grupo de ex combatentes. O diretor também nos mostra de maneira visual como seus protagonistas nunca saíram da luta, ele os representa nos flashbacks com o mesmo físico do presente. Os quatro boods restantes também demonstrantam as divergências existente dentro de um mesmo grupo. É nesse momento que Paul acaba ganhando mais destaque, sua paranoia e dor o impossibilita de perceber quem é o verdadeiro inimigo e o faz buscar refúgio e demonstrar lealdade justamente por aqueles que ele deveria se opor. Delroy Lindo apresenta uma ótima performance com direito a dois monólogos de emocionar. E se um boné serve como elemento narrativo para mostrar a diferença ideológica dos personagens, vê-lo ressurgir em cena a cada nova tragédia com os dizeres “Make America great again” é uma mensagem fortíssima.
Spike Lee alinha sua narrativa ficcional a imagens reais da guerra e de personagens históricos importantes. O longa traz peças documentais chocantes e emocionantes. Durante os momentos “históricos” a obra opta por uma razão de aspecto de 4:3, quanto estamos no “presente” a razão de aspecto assume o seu formato padrão de widescreen. O diretor de fotografia Newton Thomas cria diferentes tratamentos de cor, luz, saturação e granulação da imagem para cada época retratada. Tudo é muito bem filmado, planejado e montado. Na trilha sonora, e até no próprio texto do filme, Marvin Gaye se destaca. O compositor Terence Blanchard sabe incluir Gaye em momentos chave e também pontuar a projeção com elementos de guerra e de crítica a guerra. Ele cria e ameniza a tensão nos tempos certos. Até mesmo a ópera de Richard Wagner, Cavalgada das Valquírias, surge quando o grupo parte para a busca do tesouro. Em um dos vários acenos a “Apocalypse Now”. “Destacamento Blood” é um divertido e violento filme de ação. Têm um ótimo equilíbrio de comédia, drama e suspense. A obra alcança um patamar mais elevado ao trazer discussões e reflexões importantes. Um garoto vietnamita sem uma perna traça um paralelo com as minas terrestres deixadas pelos EUA no Vietnã. E mostra como anos depois a política internacional norte-americana ainda causa estragos. Um personagem que leva sua visão imperialista as últimas consequências causa a destruição de tudo e todos ao seu redor. Iniciar a obra com Muhammad Ali fazendo uma comparação entre cidadãos vietnamitas e os negros enviados para combatê-los e encerrar com as palavras de Langston Hughes no discurso de Martin Luther King: “América nunca foi a América para mim, e ainda assim eu juro… América será! ” é uma mensagem direta e profunda.
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Nota do Sunça:
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