Um dia vão escrever um filme sobre um garoto, que ao chegar aos trinta percebeu que ele não conquistou tudo o que idealizou, mas que sim, conquistou tudo o que ele precisava. Esse garoto não sou eu. O filme sobre minha vida é na verdade uma comédia fraca e sem graça onde tudo o que pode dar errado, dá. Nele o que realmente prevalece é a zueira.
E o dia chegou. O marco decisivo, incisivo e miserável, o rito de passagem que todo bípede masculino descendente da ordem dos primatas têm que se submeter. O fim chegou. Muitos tentam fugir, correr e desviar desse acontecimento lazarento, mas as tentativas são inúteis. Não há escapatória. A única forma de se evitar este rito é a morte antecipada e juvenil. E como, para a maioria das pessoas, essa não é uma opção viável, métodos comportamentais foram desenvolvidos para tentar amenizar esse desagradável acontecimento. Estou falando da chegada dos trinta. Conhecida mundialmente como o rito de passagem de um jovem garoto feliz e promissor para um tiozão infeliz e fracassado. É pessoal, deu ruim.
E aqui me encontro, o fim está próximo. Hoje completo trinta anos de existência nesta monstruosa conspiração, com o objetivo de impedir todo e qualquer tipo de realização, que chamo de vida. Realmente é uma época brutal de se viver. E os métodos de superação desenvolvidos para este grande trauma obrigatório na vida de um homem, basicamente consiste em gastar enormes quantias em automóveis de luxo e/ou consumir exorbitantes quantias de álcool. Porém não me conformei com a chegada do fim, e resolvi comprovar que completar os trinta não é tão ruim assim. Então, o tiozão aqui enumerou três metas que comprovariam, caso uma ou mais delas fossem atingidas, que a chegada aos trinta não foi um fracasso. (Difícil, mas vamos lá.) Bem o Sunça de quinze anos diria que nessa altura do campeonato uma dessas metas deveria ter sido alcançada:
- Constituir família
- Ficar extremamente rico
- Sucesso e fama profissional (Seja como publicitário ou como cartunista e/ou qualquer outra coisa)
E hoje, primeiro de novembro de dois mil e dezesseis, posso afirmar com certeza e confiança de que não conquistei nenhuma das opções anteriores. Mediante a essa realidade resolvi, assim como o amigo Indiana Jones, dobrar as mangas e partir para ação. Vou conseguir uma esposa, dinheiro e sucesso e se tudo falhar tenho uma cartada final, genuína e decisiva, vou correr para os braços de minha mamãe e chorar as pitangas em uma extensa sessão de terapia materna.
Então esse ex-pimpolho, uma vez conhecido como um garoto cheio de ideias mirabolantes e planos fantasiosos, agora um tiozão, conhecido como um idoso de idéias falhas e planos não conquistados, pegou seu chapéu, seu fiel companheiro o Bilau e partiu para uma (des)incrível aventura para tentar mudar o desfecho de sua triste existência. (Não sei porque mudei para terceira pessoa neste parágrafo, mas prometo voltar ao normal no próximo. Afinal, sou eu mesmo falando de ieumesmis.)
Constituir família. Isso parece inviável para um rapaz que foge de relacionamentos como Bandit Darville foge da polícia e que, neste momento, está namorando todo mundo. Na verdade o mais próximo de um relacionamento saudável e duradouro que cheguei é meu bromance com o Bilau. Sendo assim, só me restou uma opção, recorrer aos amigos Gary Wallace e Wyatt Donnelly e utilizar seu supercomputador milagroso para encontrar a parceira perfeita. Depois de uma longa conversa com meu confidente Bilau, estava certo de que a mistura entre Jennifer Aniston, Margot Robbie, Marina Ruy Barbosa, Rosario Dawson, Cleo Pires e a Princesa Jamine era a ideal. E realmente, eu estava certo, uma das mulheres mais bonitas que já vi, magicamente surgiu na minha frente. Forte, empoderada e segura de si. E como não estamos mais nos machistas anos oitenta, o magnífico exemplar feminino que alegrou momentaneamente minha existência, se tocou que as mulheres são donas do próprio corpo e muito melhor do que os homens e chegou a conclusão de que era um mulherão e areia demais para meu fusquinha. Em suas próprias palavras:
Deu meia volta e foi embora (Bebendo sua sukita) ser dona de sua própria vida. Doeu? Doeu! Mas segui em frente, ainda me restavam duas opções. Liguei para o amigo Josh Baskin que quando ficou grande conseguiu unir seus gostos pessoais ao sucesso profissional, pedi dicas e uma oportunidade de trabalho. E não é que ele me ajudou, me dei bem na loja de brinquedos. Minhas ideias criaram toda uma nova gama de produtos, fui considerado um visionário. O único problema é mais da metade de toda minha renda era gasta com os próprios brinquedos que eu criava, que eram muito divertidos, mas extremamente caros. A outra metade do dinheiro gastava na vida boêmia, eu Ferris Bueller e Cameron Frye curtiamos a vida adoidado. Gastando mais do que podia e tirando mais “days of” do que o necessário acabei me endividando, perdendo meus bens e fui mandado embora sob ameaças. Durante a demissão meu ex chefe dizia:
– Você se sente com sorte, pivete?
Mas assim como John Rambo, sou um sobrevivente. Aprendi com Rocky Balboa a não desistir, a receber as pancadas da vida e seguir em frente, então juntei meus cacos e parti para minha última e derradeira opção, até porque não posso me estender mais. Esse conto já está parecendo uma história sem fim. Pensei em pedir ajuda para o Beetlejuice mas isso é sempre perigoso, e com a morte do senhor Miyagi um treinamento para o sucesso parecia distante. Então me dei conta de que com a ajuda de Marty McFly e Doc Brown eu podia mudar meu infeliz destino. É caro viajar no tempo e seguindo o conselho de Arthur Dent, peguei o delorean emprestado com a promessa de depositar uma grana na conta do Doc assim que chegasse no ano de 2001, quinze anos depois o dinheiro teria rendido bem. Parti então para o passado com a intenção de instruir melhor o Sunça de quinze anos para assim mudar meu futuro. Fez sentido? Não, neh. Mas assim como os Gremlins, muitas coisas na vida não fazem sentido.
Pois bem, cheguei no ano de dois mil e um e fui encontrar o Sunça de quinze anos na banca de revistas onde eu costumava esperar minha mãe depois da aula. E lá estava, o pequeno Assumpção de camisa do Galo, um gibi do Frauzio na mão e um albúm do Lucky Luke debaixo do braço. E aquele pimpolho promissor logo me reconheceu.
– Você é quem eu penso que você é? Diz o garoto.
– Creio que sim. Respondi
– Legal tio, me vê um churros então.
– Churros? Eu não vendo churros…
– Uai?!? Você não falou que era você?
– Não. Eu sou você!
– Entendi. Disse Sunçazinho desinteressado e pegando uma hq do Homem-Aranha.
– Eu sou o Assumpção e vim do futuro para guiar-te. Disse com veemência.
– Para o quê?
– Te guiar. Respondi.
– Não! Guaio…. Hahahaha Proliferou o jovem aos risos.
– Sério mesmo? Eu falei incrédulo.
– Hahaha… Mas diz aí tio, quem é você?
– Eu sou você com 30 anos.
– Ham ham. Beleza.
– Não, é verdade. Eu sou você!
– Prova! Contestou o moleque.
– Você é apaixonado pela Jennifer Aniston, queria ser o Homem-Aranha, gasta muito tempo assistindo Cartoon Network e pensa o tempo inteiro no Galo.
– Todo mundo sabe disso. – Desdenhou o menino – O que você faz?
– Sou apaixonado pela Jennifer Aniston, acho que ainda existe a chance de um dia me tornar o Homem-Aranha, gasto muito tempo assistindo desenhos na Netflix e penso o tempo inteiro no Galo.
– Ok. Faz sentido! – Acreditou o pimpolho – E o que você quer comigo?
– Te instruir, para que nosso futuro seja melhor!
– Muito bom! E como vai nossa esposa e filhos.
– Não temos.
– E nossas hqs e comerciais de sucesso?
– Não temos.
– Somos ricos pelo menos?
– Não.
– E é você que vai me instruir?
– Ok. Faz sentido. Reconheci envergonhado.
– Tudo bem, te dou uma chance. Me diz aí como somos no futuro?
Resolvi que seria uma boa ideia dar um panorama geral a mim mesmo antes de partir para os conselhos e planos futuros. Quando disse que não tínhamos constituído família e que nosso relacionamento mais longo e duradouro era com um cachorro de plástico (Que ele iria conhecer daí a quatro anos), ele compreendeu. Ao saber que não atingimos o estrelato com nossos quadrinhos e nossas propagandas também foi paciente. Escutando que o pouco dinheiro que ganhamos, gastamos com aluguel, cerveja, pinga e quadrinhos ele aceitou ainda tranquilo. Lhe disse que sabia que ele queria mudar o mundo, mas que o mais próximo disso que chegamos foi fazer tiras sobre um bêbado que acha que é um super-herói, ele relutou, mas ainda assim se conformou. Pensei então em partir para nossa tática para melhorar o futuro, mas ele quis fazer algumas perguntas antes e infelizmente nunca chegamos a nossos planos.
As respostas para as perguntas foram demais para o pobre garoto. Quando descobriu que não me tornei o Clint Eastwood, não conheci o Johnny Cash nem fiquei amigo do Adam West, ele surtou. E sem perceber que o Sunça de quinze anos estava prestes a estourar, soltei um “Finish Him”. Falei que não vivia no universo de Debi & Loide e que estava longe de me tornar o Homem-Aranha. Essa foi a gota d’água. E no melhor estilo Buddy Revell prometeu me pegar na porrada lá fora. Não tive outra opção, piquei a mula rapidamente e nem tive tempo para dizer “I’ll be back”. Voltei para dois mil e dezesseis. E na falta de um clube dos cinco que rolasse um conta comigo no estilo goonies, resolvi que assim como Roger Rabbit eu estava melhor sozinho, afinal sou duro de matar. Parei de procurar por assombrações do passado/presente/futuro, mesmo sendo o mais perto que já cheguei de ser um Caça Fantasmas, e vim tomar uma no Seu Romão. (De onde lhes conto os recentes acontecimentos)
E foi assim que cheguei onde estou. Trintão, tiozão. Deu ruim. (Mãe, se a senhora estiver lendo meus lamentos, mais tarde passo aí em casa para um lanche/terapia.)
Bjundas
Obs.01 Você jovem ainda não pegou nenhuma das referências neh?!? Viu como estou velho!
Obs.02 Agora tiozão sou obrigado por contrato a fazer a piada do pavê ou pra comê pelo menos uma vez por dia.
Obs.03 A barriga de chopp não é obrigatória, porém é muito usual.
Ministério do sarcasmo adverte:
Acreditar e/ou levar a sério informações desse texto é um atestado de bestialidade.
Sunça é cartunista, escritor e publicitário.
Às vezes certo, às vezes errado, nunca com razão.
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