Na vida adquirimos virtudes, com muita luta conquistamos posses e geramos oportunidades. Estamos sempre lutando para atingir algo, normalmente conseguimos patavinas. Mas, às vezes, alcançamos glórias como um bom pileque ou curtidas em redes sociais que rendem a ilusão de que somos felizes e amados. Passamos por muitas experiências em nossa frustrada existência, paixões, brigas, empregos, barraquinhas com vários sabores de churros, almoços de família, o amor verdadeiro que não é verdadeiro porque acaba e as crises existenciais. É da nossa praxe valorizar, estimar e endeusar o patrimônio considerado por nós, primatas bípedes semi-evoluídos, mais importante. O telefone celular.
Ah os smartphones! Que obra dos Deuses. Um elixir maravilhoso que agrada e deixa a vida mais efêmera e nula. Um parceiro que nos acompanha diariamente, diz como está o dia, a temperatura, as novidades, o trânsito, as horas e permite a conversa entre os humanos. Diálogo esse, que pode ser resumido ao compartilhamento instantâneo de “bom dia” com flores, fotos de nossas refeições, memes e a tão bem vinda pornografia. Tudo o que precisamos para nossa sobrevivência encontramos nesses aparelhos mágicos. Uma outra forma para realizar tudo isso seria sair de casa, interagir uns com os outros e analisar a natureza a nosso redor. Mas afinal, quem têm tempo para isso? Prezamos tanto por nosso telefone que ele nos acompanha no trabalho, academia, banheiro, em todos os lugares, até os levamos para a cama. E durante todo esse tempo ele escuta nossas mágoas, nos conforta quando estamos tristes, guarda nossos segredos e até mesmo protege nossos primorosos nudes. Eles são bons companheiros
Não é à toa o nosso ciúme criminoso e possessivo por nossos smartphones. É um procedimento comum receber algo ou alguém que demonstra interesse e/ou tenta encostar em nosso telefone, com um imediato e robusto tapa na fuça. Somos apegados a nossas máquinas do amor. Quem não se lembra do deslumbre que é uma nova? Nós adoramos as novinhas. É lindo quando tudo é novidade, a empatia flui, todas as nossas demandas são bem atendidas e, em geral, o convívio funciona bem. Também é fácil lembrar de nossos acessos de ódio quando falharam ligeiramente ou quando não agem conforme o esperado. Só é difícil lembrar dos modelos anteriores que passaram por nossas vidas, não por questões mal resolvidas ou porque ainda nos fere por dentro, é só falta de interesse mesmo. Até porque qual o sentido de tentar consertar algo importante para você se é comum e aceitável apenas dispensar e trocar por outro telefone. E se ao invés de um aparelho danificado o seu um dia “acabar”, a solução é igualmente simples. Consiste em enfiá lo em uma gaveta e fingir que nada aconteceu e que até mesmo você nunca teve um celular. Basta colocar um dinheiro no bolso chamar os amigos (as) e partir para as compras nos passadiços finais de semana. É habitual testar o máximo possível de modelos antes de tomar sua decisão.
O ser humano ama seu smartphone. Essas máquinas fantásticas transformam nossa existência e mudam nossas vidas. Sem elas passariamos por maus bocados. Então seguimos com esse relacionamento complexo e unilateral (Assim como fazemos com todas nossas convivências) na esperança de que tudo é perfeito, mágico e vai durar para sempre. E, se não permanece, pouco ligamos. No mercado sempre saem novos modelos. Mais jovens, modernos, atraentes e onerosos.
Celular é amor.
Bjundas
Ministério do sarcasmo adverte:
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Sunça é cartunista, escritor e publicitário.
Às vezes certo, às vezes errado, nunca com razão.
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